Livestock Research for Rural Development 19 (11) 2007 Guide for preparation of papers LRRD News

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Uso da bananeira (Musa spp.) no controle de parasitas de animais domésticos: do empirismo à ciência

C J Olivo*, L E Techio Pereira, N Madruga de Carvalho, F Flores Vogel, B M Heinzmann e A P Neves

Departamento de Zootecnia, Universidade Federal de Santa Maria, RS, Brazil.
*Faixa Nova de Camobi, km 09- Campus Universitário. Santa Maria, RS, Brazil. Zip Code: 97105-900
clairo@ccr.ufsm.br

Resumo

Objetivou-se com esta revisão levantar informações empíricas, técnicas e científicas sobre o uso da bananeira (Musa spp.) no controle de parasitas em animais domésticos. As informações foram coletadas de publicações técnicas e científicas. A análise dos dados aponta para a necessidade da realização de pesquisas de caráter multidisciplinar, visando levantar informações sobre a palatabilidade e o consumo da bananeira relacionados à espécie  e categoria animal, associado ao grau de controle dos helmintos. Aspectos importantes sobre a biologia da planta, quantidade e tempo de administração, bem como, análises químicas e bromatológicas dos materiais utilizados, são escassos. Estudos dos componentes químicos das partes da planta associados ao controle de helmintos também são raros.

 

As informações levantadas indicam que o uso de lâminas foliares apresenta efeito anti-helmíntico. Na maioria dos casos, no entanto, não há referências sobre o grau de controle e as espécies de parasitas controladas. A ausência dessas informações e a grande heterogeneidade de formulações se constituem em entraves para a utilização da bananeira como tratamento não convencional no controle de helmintos e outros parasitas.

 

Novos estudos científicos são recomendados, visando proporcionar técnicas de manejo mais detalhadas e seguras para a utilização da bananeira no controle de parasitas de animais domésticos.

Palavras-chave: atividade anti-helmíntica, fitoterapia, plantas medicinais



Use of the banana plant (Musa spp.) for the control of parasites in domestic animals: from empiricism to science

Abstract

Literature was reviewed aiming to compile empiric, technical and scientific information about the use of the banana plant (Musa spp.) for the control of parasites in domestic animals. The analysis of the data shows the necessity of a multidisciplinary search in order to collect information about the palatability and consumption related to animal category and species, associated to helminth control extent. Important aspects about the plant biology, time of administration, as well as chemical and bromatological analyses of the plant materials are sparing.

 

The search information indicate that the use of leaves have anthelmintic effect. However, in the main cases, references about the control extent and the parasite species controlled are missing. The lack of these pieces of information and the large heterogeneity of the formulations are hindrances for the utilization of the banana plant as unconventional treatment for the control of helminths and other parasites.

 

Further scientific studies are recommended in order to furnish secure and detailed manegement techniques for the utilization of the banana plant to control parasites in domestic animals.

Key Words: Anthelmintic activity, medicinal plants, phytoterapy


Introdução

As parasitoses estão entre as principais causas de perdas econômicas, especialmente em rebanhos criados em regiões pecuárias tropicais e sub-tropicais (Bordin 2004), estando entre as 20 doenças de maior impacto na pecuária mundial (Githiori et al 2004). Entre as enfermidades parasitárias mais importantes destacam-se as causadas por Boophilus microplus, larvas de Dermatobia hominis, pela Haematobia irritans e pelos helmintos gastrintestinais (Souza 2004). Em bovinos os problemas sanitários causados pelas parasitoses implicam em baixa conversão alimentar, diminuição no ganho de peso com conseqüente redução na produção de carne ou leite. Em ovinos e caprinos as parasitoses  são responsáveis pela redução no ganho de peso, quedas na produtividade (carne, lã ou leite) e elevadas taxas de mortalidade, especialmente em animais jovens (Athayde et al 2004; Kawano et al 2001; Coumendouros et al 2003).

 

A intensificação dos sistemas convencionais de produção animal tem guardado uma dependência quase que exclusiva dos quimioterápicos no controle de parasitas. Com relação ao controle de helmintos, verificou-se, nas últimas quatro décadas, um vertiginoso desenvolvimento da quimioterapia (Amorin 1987), disponibilizando-se de drogas anti-parasitárias de amplo espectro e elevado poder residual (Bordin 2004). Essa condição, no entanto, tem contribuído para o aumento da resistência de diferentes gêneros parasitários à ação de diversos grupos de substâncias químicas (Lans et al 2000) em diferentes regiões do mundo (Hordegen et al 2003). A resistência contra drogas parasitárias é um dos problemas mais sérios da cadeia produtiva animal (Molento 2004). Associado a isso deve-se considerar o elevado custo dos tratamentos, a presença, muitas vezes, de resíduos na carne e no leite demandando períodos variados de carência e a poluição ambiental causada pela manipulação dos produtos e pelos metabólitos excretados. Nesse contexto, da agricultura convencional, há premência no desenvolvimento de métodos que reduzam a carga parasitária dos animais e a disponibilidade de larvas nos pastos. Por outra parte, destaca-se o grande crescimento da agricultura orgânica na qual há extremas restrições ao uso de produtos sintéticos sejam preventivos ou curativos, incluindo os antiparasitários (Hordegen et al 2003). O Brasil está entre os maiores produtores mundiais de produtos orgânicos e este mercado vem crescendo em importância em diferentes regiões do planeta. Embora a produção animal orgânica seja incipiente, comparada à produção vegetal, a tendência é de crescimento. A carência de informações científicas na recomendações de produtos naturais para o controle de parasitas constitui-se em um dos principais entraves ao desenvolvimento da pecuária orgânica. Várias pesquisas têm sido conduzidas estudando-se estratégias profiláticas que envolvem o manejo das pastagens, controle biológico com fungos ou complementação alimentar com leguminosas forrageiras que apresentam elevada concentração de taninos, tendo-se obtido resultados promissores. No entanto, investigações científicas efetivas, com métodos terapêuticos não convencionais, usando-se fitoterápicos, são raras (Hordegen et al 2003). Ressalta-se que, embora haja dependência dos anti-helmínticos comerciais, há tendência da adoção de técnicas naturais também na pecuária convencional.

 

Algumas pesquisas conduzidas com diferentes espécies vegetais têm demonstrado propriedades anti-parasitárias (Hordegen et al 2003; Athayde et al; 2004; Githiori et al 2004), dentre as quais destaca-se a bananeira (Amorin 1987; Vaitsman 1954).

 

Aspectos botânicos e de cultivo da bananeira

A bananeira (Musa sp.) compreende plantas gigantes, herbáceas perenes, pertencentes a Classe Monocotyledonae, Família Musaceae, Ordem Scitominae, desenvolvendo-se em áreas tropicais e sub-tropicais úmidas (Souza 2002). A distribuição geográfica da cultura econômica da bananeira está compreendida entre as latitudes de 25°N e 25°S, embora sejam encontradas até 34°N, em Israel, e a 30°S, em Natal, na África. A bananeira, originária de clima tropical úmido, exige temperaturas que não estejam abaixo de 10°C e que não se elevem acima de 40°C. Os melhores limites térmicos para o bom desenvolvimento da cultura estão entre 20° e 24°C, podendo desenvolver-se satisfatoriamente em locais cujos limites de temperatura sejam 15° e 35°C (Simão 1998). Precipitações pluviométricas entre 100 e 180 mm por mês são mais indicadas ao seu cultivo.

 

A bananeira possui raiz, caule ou rizoma (subterrâneo), pseudocaule, formado por bainhas foliares sobrepostas, folhas (constituídas por bainha e lâmina) e cacho. Os tamanhos dos componentes estruturais da bananeira dependerão da espécie, cultivar, condições edafoclimáticas e tratos culturais (Soffner 2001).   
 

 

Composição química

 

Levantamentos efetuados demonstram que a planta contém 5-hidroxitriptamina (de propriedades vasoconstritivas e inseticidas), ácido caprílico (de ação fungicida e pesticida), canferol (de propriedades antibacterianas), açúcares, ácido gálico, serotonina e compostos com ação anti-hiperglicemiante. O pseudocolmo contém compostos polifenólicos, entre eles taninos, leucodelfinidina e leucocianidina, além de mucilagens, dopamina, noradrenalina, desoxixantimidina, nitrato de potássio e de magnésio, elevada quantidade de matéria mineral, aminofenóis (com ação vasoconstritora), fibras, carboidratos, clorofila, cálcio, fósforo, α-tocoferol, ácido ascórbico, 3-caroteno, niacina e sílica. Essa composição demonstra que o pseudocolmo apresenta vários compostos e propriedades naturais que podem promover a saúde da pele. Esta condição é reforçada pelas características da seiva que apresenta pH ácido e possui aminoácidos e ferro, com grande ação na formação de colágeno; possui cerca de 7,6 % de proteínas, proantocianidinas, pigmentos polifenólicos, potássio, arabinoxilanas, pectina, ácido urônico, além de ser um potente anestésico local (Lans et al 2000).
 

 

Formulações e recomendações de uso da bananeira

 

Os dados contidos na Tabela 1 demonstram a diversidade de informações a respeito da utilização da bananeira no controle de parasitas e, principalmente, a possibilidade de seu uso como planta anti-helmíntica. Nela observa-se a carência de pesquisas que confirmam as afirmações feitas por Amorin (1987) sobre a escassez de literatura científica a respeito da ação anti-helmíntica de plantas. As informações expostas refletem as ponderações deste autor, segundo as quais as referências existentes carecem de resultados obtidos em investigações científicas bem controladas que permitam não somente a constatação, como também a avaliação da atividade das plantas consideradas anti-helmínticas. Informações mais recentes confirmam este atraso científico (Fernandes et al 2004).

 

A primeira experiência brasileira utilizando a bananeira como anti-helmíntico foi relatada por Vaitsman (1954). O autor observou que suínos, quando arraçoados com bananeira pareceram ter suas populações de vermes intestinais controladas.

 

Outros autores desenvolveram trabalhos experimentais (Tabela 1), demonstrando a ação anti-parasitária da bananeira. Amorin (1987) avaliou o efeito de 26 espécies de plantas nativas e cultivadas sobre camundongos infectados naturalmente com oxiurídeos (Syphacia obvelata e Aspiculuris tetraptera). As plantas que produziram ação anti-helmíntica mais significativa foram: o cipó-cravo (Tynnanthus fasciculatus L.), a bananeira (Musa spp.) e a fruta-do-conde (Anona squamosa L.). Nesta pesquisa, oito espécies, alho (Allium sativum L.), romã (Punica granatum L.), camomila (Matricharia chamomilla L.), jatobá (Hymenaea courbaril var. altissima, (Ducke) Lee et Long.), losna (Artemisia absinthium L.), sementes de abóbora (Curcubita moschata Duch.), picão (Bidens pilosa L.) e hortelã (Mentha piperita L.), mostraram eficácia sensivelmente menor que as anteriormente citadas, porém com expressivos percentuais de eliminação de vermes, comparado aos controles.

 

Na amostragem contida na Tabela 1, verifica-se que somente no trabalho conduzido por Amorin (1987) pode-se caracterizar parcialmente a quantidade de planta utilizada por  espécie animal. Considerando-se que os dados disponíveis não permitem estimar a quantidade de matéria seca administrada, sendo esta uma indicação mais segura da quantidade de extrato utilizada, torna-se difícil extrair uma recomendação confiável.

 

Nas demais pesquisas efetuadas com bovinos (Braga et al 2001) e caprinos (Escosteguy 2000), a bananeira (lâminas foliares) foi fornecida à vontade, não havendo indicação sobre a quantidade consumida. Nas referências técnicas ou levantamentos do conhecimento popular, a bananeira é fornecida à vontade ou em quantidades limitadas entre três e cinco “folhas”  por animal adulto por dia. Araújo Filho (2000) e Garcia e Lunardi (2001) recomendam a adição de pequenas quantidades de folhas de Eucalyptus ou cidreira (Cymbopogon citratu Stapf.). Não há, entretanto, justificativa por parte destes autores sobre um possível sinergismo destas plantas com a bananeira e seu efeito sobre os helmintos. Os óleos mircenol e citral constituintes do óleo de cidreira, possuem comprovada ação sobre carrapatos (Ferreira e Fonteles 1989). Por outro lado, Golin (2000)  recomenda a adição da cidreira para melhorar a palatabilidade da bananeira, embora sem comprovação científica. Observa-se que, tanto as informações oriundas do conhecimento popular e de orientações técnicas quanto nas científicas, não há referências sobre o estágio de desenvolvimento fisiológico da planta, além de detalhes do local de coleta e de manejo (caso a cultura seja cultivada). Ao considerar-se que o teor de matéria seca e a composição da planta são influenciados por tais fatores, constituem-se, portanto, em informações essenciais. O conhecimento popular indica o uso das lâminas foliares intermediárias, isto é, entre as apicais, em crescimento, e as que estão em início de senescência, situados na parte superior do pseudocolmo.

 

Além da falta dessas informações, que dificultam a reprodução das recomendações ou experiências científicas, também a quantidade indicada, na maioria das vezes, pelo número de “folhas”, interfere no tratamento, pois, dependendo do estadio fisiológico, da época de colheita, da cultivar e dos tratos culturais, o tamanho e o peso das lâminas foliares são variáveis.

 

Outros aspectos a serem observados são o tempo de administração e o intervalo entre as aplicações do tratamento. Como faixa predominante a recomendação de uso varia de 3 a 5 dias consecutivos, havendo escassa referência sobre o intervalo entre administrações.

 

Os raros trabalhos experimentais, de certa forma, sustentam a recomendação de administração da bananeira por 3 a 5 dias consecutivos. Amorin (1987) demonstrou haver efeito cumulativo, com aplicação em camundongos, de extrato aquoso bruto de bananeira a 5 %, não ocorrendo, no entanto, acréscimos significativos na redução do número de oxiurídeos na administração por 3 ou 7 dias consecutivos.


Tabela 1.  Indicações da utilização da bananeira (Musa spp.)  no controle de parasitoses em animais domésticos.

Autor/Fonte

Tipo de Informação

Espécie Animal

Componente da planta

Formulação

Controle

Vaitsman 1954

Científica

Suínos

Planta inteira

Dose diária para adultos por 5 a 7 dias/mês; jovens metade da dose

Helmintos

Araújo Filho 2000

Técnica

bovinos

Lâminas foliares (LF)

 1 LF+20g de folhas verdes de          eucalipto

Helmintos

Garcia E Lunardi 2001

Técnica

Bovinos

LF

3 LF+20g de eucalipto ou cidreira

Helmintos

Burg e Mayer 1999

Técnica

Bovinos

LF

LFs à vontade inteiras ou picadas

Helmintos, carrapatos e bernes

Escosteguy 2000

Científica

Caprinos

LF

LFs à vontade durante 5 dias

Helmintos

Braga et al 2001

Científica

Bovinos

LF

LF à vontade inteiras por 5 dias

Helmintos

Amorin 1987

Científica

Camundongos

LF

Extrato aquoso (5 %) por 3 dias consecutivos (2,4,10 ou 20 g/kg)

Oxiurídeos (52,1%)

Lans e Brown 1998

Empírica e científica

Cães

Pseudocolmo (PC)

1 kg PC+ 4l água/ 3 kg peso vivo; banhar o animal

Miíases e sarna

Lans  e Brown

Empírica e científica

Cães

PC

Seiva do PC; fricção nas áreas sensíveis

Sarna

Sharma et al 1971 in Akthar et al 2000)

Científica

Caprinos

LF

Extrato aquoso

Haemoncus contortus

Golin 2000

Técnica

Bovinos

LF

Não definida quantidade. Fornecer por 5 dias/ mês com talos para adultos e
5 dias/mês sem talos para jovens

Helmintos

Golin 2000

Técnica

Aves

PC

Fornecimento de extrato aquoso das raízes à vontade

Helmintos

Matckaire e Bwakura 2004

Empírica e científica

Bovinos

 

Raízes

 

Adicionar água às raízes frescas esmagadas e fornecer ao animal

Larvas de insetos; picada de cobra


Outro aspecto evidenciado pelo autor foi a diferença entre plantas no tempo de eliminação dos helmintos. Comparativamente o efeito da bananeira manifestou-se com maior rapidez do que a fruta-do-conde.
 

 

Possibilidades de uso da bananeira como planta anti-helmíntica

 

Observa-se que na Tabela 1 as referências indicam, em sua maioria, a bananeira como planta com ação anti-helmíntica sem especificar, entretanto, seu grau de controle. Poucas informações comprovam o efeito da bananeira sobre espécies de helmintos, como nos estudos feitos por Escosteguy (2000), Amorin (1987) e Sharma et al (1971) in Akthar et al (2000) que verificaram efeito significativo de extratos de Musa sp. sobre a motilidade e desenvolvimento de Haemoncus contortus. Algumas referências também indicam o uso da bananeira como cataplasma em feridas ou problemas de pele (Lans e Brown 1998), no controle de outros parasitas como carrapatos, bernes (Burg e Mayer 1999) e miíases (Lans et al 2000), contudo sem comprovações científicas.

 

Os resultados da pesquisa experimental confirmam as recomendações oriundas do conhecimento popular, relatado nas publicações técnicas. As melhores possibilidades apontam para a utilização continuada por três a cinco dias conforme comprovação experimental. A recomendação de administração da bananeira de uma só vez, como medida mais prática de manejo dos animais carece de informações científicas. As quantidades a serem ofertadas de acordo com a espécie e categoria animal ainda dependem de estudos mais aprofundados. Paralelamente às avaliações com animais, são necessários estudos de fracionamento, visando identificar e isolar os componentes ativos da planta utilizada.

 

Dentre as classes de substâncias vegetais que apresentam atividade anti-helmíntica descrita encontram-se os óleos essenciais (Anthony et al 2005), fenil-propanóides, alcalóides (Withfield 1996), naftoquinonas (Guarrera 1999), saponinas (Simões et al 2003), taninos (Paolini et al 2003) e tiofenos acetilênicos (Hymete et al 2005). Espécies de Musa apresentam taninos em sua constituição. Estes compostos poderiam ser os responsáveis pela atividade anti-helmíntica, uma vez que plantas contendo taninos são freqüentemente utilizadas no combate à verminose. Como exemplo destacam-se, além da bananeira, a casca do carvalho (Quercus robur L.) e as folhas de nogueira (Juglans regia L.) (Wagner 1993, Guarrera 1999). Os resultados obtidos por Paolini et al (2003), que detectaram uma redução na fecundidade e na ovoposição de Haemonchus contortus em cabras, após a utilização de extratos de quebracho (Schinopsis ssp.), planta rica em taninos, somam-se às evidências já descritas. No entanto, não existem estudos conclusivos sobre a(s) possível(eis) substância(s) anti-helmíntica(s) da bananeira.

 

Embora a escassez de pesquisas, os levantamentos demonstram que a bananeira também pode ser utilizada como planta forrageira, havendo, assim, sinergismo entre o efeito anti-helmíntico e aspectos que envolvem a nutrição do animal. A possibilidade do cultivo da bananeira na maioria das regiões brasileiras também favorece a sua utilização.

 


Mecanismos de ação

 

Dada a diversidade de substâncias contidas nas preparações de extratos brutos de bananeira ou na planta in natura, torna-se difícil estabelecer o mecanismo de ação anti-helmíntica. Análises sobre os componentes da bananeira confirmam essa variabilidade e, somente em estudos que implicam no fracionamento das substâncias, permitindo a concentração da atividade vegetal é que possibilitaria a identificação do princípio ativo.

 

Toxicidade e utilização como forrageira

 

Das citações referenciadas apenas Amorin (1987) fez testes toxicológicos, não encontrando qualquer sinal clínico que pudesse ser atribuído à intoxicação de camundongos tratados com extratos aquosos brutos (5 %) de bananeira durante três dias consecutivos, na dosagem utilizada. Neste estudo o autor testou a utilização prolongada  do extrato bruto de bananeira (5 %) por sete dias, à razão de 2g/kg, administrado por via intra-gástrica, não sendo encontrada nenhuma alteração de ordem patológica. De alguma forma, embora a escassez de pesquisas, os resultados guardam relação com as recomendações feitas por Amorin (1987) e Golin (2000) que indicam a utilização da bananeira não só como fitoterápico mas também como forrageira devido as suas qualidades nutricionais. Anjaneyalu et al (1997) demonstraram que o amido presente no pseudocolmo da bananeira é semelhante ao de cereais e tubérculos.

 

Coleta e disposição das informações

 

A coleta de informações oriundas do conhecimento dos produtores deve incluir, além de recomendações existentes do número de lâminas foliares por animal e do tempo de administração, dados sobre características ambientais da região, época de coleta, variedade, estádio fisiológico, parte da planta utilizada e a quantidade fornecida por animal (espécie e categoria). 

 

Cientificamente, conclui-se que há necessidade de serem feitas pesquisas de caráter multi e interdisciplinar, devendo-se testar níveis crescentes de bananeira, para avaliar a palatabilidade e determinar limites de consumo, devidamente pareados com análises de controle da carga parasitária. Concomitante à contagem de helmintos, recomendam-se exames de coprocultura, visando identificar possíveis diferenças quanto à sensibilidade de determinada espécie ou gênero de helmintos à utilização da bananeira. À essas informações deve-se agregar dados sobre as características biológicas e morfo-anatômicas da planta, incluindo-se as mensurações de comprimento, largura e peso das lâminas foliares ou de outros componentes estruturais utilizados na formulação. Estas informações, aliadas aos estudos de consumo, proporcionarão dados mais precisos de parâmetros como a porcentagem de material fresco e seco por unidade de peso animal. Amostras do material utilizado, devidamente acondicionadas, devem ser submetidas à análises bromatológicas e químicas. Ainda, estudos sobre o fracionamento da planta são fundamentais para a identificação e isolamento de substâncias que apresentam efeito anti-helmíntico e ação sobre outras parasitoses.

 

Nesse contexto é provável que os estudos gerem informações disponibilizando tecnologias de utilização da bananeira in natura ou de substâncias isoladas, sendo provavelmente mais benignas ao ambiente do que os fármacos convencionalmente usados como anti-helmínticos. Acredita-se, assim, que as informações geradas serão usadas não só na agricultura orgânica, mas também na convencional.

 


Conclusões


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Received 23 June 2006; Accepted 31 August 2007; Published 1 November 2007

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