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Disponibilidade de fitomassa do estrato herbáceo de uma caatinga raleada submetida ao pastejo alternado ovino-caprino#

 

J M Pereira Filho, J A Araújo Filho*, F C Carvalho** e M C Rego***

 

Departamento de Medicina Veterinária, Universidade Federal de Campina Grande, CP 64, CEP 58.700-000, Patos-PB,
jmorais@cstr.ufcg.edu.br   e   jmpfpiaui@ig.com.br

* Centro Nacional de Pesquisa de Caprino-CNPC/EMBRAPA, Sobral-CE.

** Departamento de Zootecnia da Universidade Estadual Vale do Acaraú

*** Departamento de Zootecnia da Universidade Federal do Ceará.

# Parte da Dissertação de mestrado do primeiro autor - Universidade Federal do Ceará


Resumo

O trabalho foi realizado no Centro Nacional de Pesquisa de Caprinos - CNPC/Embrapa, Sobral Estado do CE, de 1988 a 1994, com o objetivo de avaliar a disponibilidade de matéria seca do estrato herbáceo de uma Caatinga raleada, submetida ao pastejo alternado ovino-caprino. Foram utilizadas fêmeas ovinas Morada Nova e caprinas SRD (Sem Raça Definida) que, em grupos de 10, foram distribuídas em piquetes de 4, 6 e 8 ha. Foi avaliada a disponibilidade de matéria seca de gramíneas e dicotiledôneas herbáceas. O delineamento adotado foi em parcelas subdivididas, com 2 blocos e tratamentos em esquema fatorial cruzado de 3 x 19 (3 taxas de lotação nas parcelas e 19 épocas do ano como subparcelas).

A disponibilidade de matéria seca do estrato herbáceo aumentou nas primeiras épocas de ocupação por ovinos, seguida de tendência de queda, com restabelecimento nas épocas iniciais da ocupação por caprinos. A disponibilidade de matéria seca de gramíneas diminuiu com o pastejo de ovinos e se restabeleceu com o de caprinos. Já a disponibilidade de matéria seca de dicotiledôneas aumentou durante o pastejo de ovinos e diminuiu durante o de caprinos. A disponibilidade e a composição florística da matéria seca do estrato herbáceo da Caatinga raleada podem ser controladas mediante o pastejo alternado ovino-caprino, garantindo, ao longo dos anos a estabilização da produção de gramíneas e dicotiledôneas herbáceas, tornando-se, possivelmente, na forma mais adequada de exploração pastoril sustentada deste componente florístico.

Palavras-chave: caprinos, dicotiledôneas herbáceas, gramínea, ovinos, seletividade, taxa de lotação



Standing phytomass availability of the herbaceous cover of Caatinga raleada subjected to alternate grazing by sheep and goats

Abstract

The experiment was carried out at the Centro Nacional de Pesquisa de Caprinos, in Sobral, Ceará State, Brazil, from 1988 to 1994, with objective of determining the dry matter availability of the herbaceous forages (monocotyledonous and dicotyledonous) of a thinned Caatinga subjected to alternate grazing by sheep and goat. Morada Nova ewes and SRD nanny goats were used, grouped by tens and were distributed in 4.0, 6.0 and 8.0 ha paddocks. Annual fluctuations on the availability of dry matter of grass and of forbs, as affected by grazing, were evaluated. A split plot design arranged in randomized form with two repetitions (blocks) and treatments in factorial of 3 x 19 (3 stocking rates in the plots and 19 periods in the sub-plots) was applied.

The availability of the herbaceous cover dry matter increased in the first periods of stocking with sheep, followed by a declining trend and recovering in the first periods of stocking with goats. The grass phytomass availability decreased with grazing by sheep and it was reestablished under goat grazing. However, the forb phytomas increased with utilization by sheep and decreased under goat grazing. Therefore, the availability and the floristic composition of the herbaceous cover of a thinned Caatinga could be controlled by the using of alternate sheep and goat grazing, warranting the stabilization of the production of grasses and forbs, and becoming one alternative of sustainable utilization of those floristic components of the Caatinga bioma.

Key words: forbs, goats, grass, selectivity, sheep, stocking rate


Introdução

A "Caatinga", expressão típica da região, mais especificamente dos habitantes do semi-árido brasileiro, é um termo de origem indígena: caa = mata; tinga = branca e aberta, significando mata branca, e ocupa uma área de aproximadamente 950.000 km2. Pela classificação de Koppen, existem três tipos de clima predominantes na região: o BShw - semi-árido, com curta estação chuvosa no verão e precipitações concentradas nos meses de dezembro e janeiro; o BShw' - semi-árido, com curta estação chuvosa no verão-outono e precipitações nos meses de março e abril e; o BShs' - semi-árido, com curta estação chuvosa no outono-inverno e precipitações concentradas nos meses de maio e junho. A precipitação anual varia de 150 mm a 1300 mm e média de 700 mm, a temperatura média está em torno de 280C, com mínima de 8ºC e máxima ao redor de 40ºC, e umidade relativa do ar em torno de 60%. Os solos predominantes da região são dos tipos classificados como latossolos, litólicos, podzólicos, brunos não cálcicos, areias quartzosas e os planossolos solódicos. Quimicamente, podem ser adequados, mas, normalmente apresentam restrições físicas, drenagem irregular, pH ácido e pouca vocação agrícola.

A vegetação da Caatinga apresenta três estratos distintos, arbóreo, arbustivo e herbáceo, havendo predominância de plantas caducifólias que perdem suas folhas entre o final das chuvas e o início da estação seca, e muitas apresentam espinhos. O substrato pode ser composto de cactáceas, bromeliáceas, havendo, ainda, um componente herbáceo formado por gramíneas e dicotiledôneas, predominantemente anuais. Araújo Filho e Crispim (2002) destacam a identificação de 12 tipos de Caatingas, com dois modelos gerais sendo bem representados: a Caatinga arbustiva-arbórea, dominante nos sertões semi-áridos e a arbórea, característica das vertentes e pés-de-serra e dos aluviões. As atividades pastoris tendem a ocupar o tipo arbustivo-arbóreo, enquanto a agricultura, o tipo arbóreo. Os autores ressaltam ainda a presença de cerca de 596 espécies arbóreas e arbustivas, sendo 180 endêmicas, e que este número de espécies tende a aumentar, sobremaneira, se considerado o estrato herbáceo, e por último os autores reafirmam o grande potencial forrageiro da região.

Na maioria dos levantamentos feito na Caatinga fica caracterizado que a ação do homem tem conduzido a vegetação a um processo de sucessão secundária e que as espécies lenhosas pioneiras como jurema preta (Mimosa tenuiflora (Wild.)) e marmeleiro (Croton sonderianus Muell.Arg.) são as mais freqüentes, com destaque ainda para a presença de outras espécies como catingueira (Caesalpinia bracteosa Tul.), mororó (Bauhinia cheilantha), mofombo (Combretum leprosum Mart.), dentre outras. No estrato herbáceo destacam-se gramíneas como as milhãs (Brachiaria plantaginea e Panicum sp.), capim rabo de raposa ( Setária sp.) e capim panasco (Aristida setifolia H. B. K.); dicotiledôneas como, mata-pasto (Senna obtusifolia) bamburral (Hyptis suaveolens Point), Malva branca (Sida cordifolia L.), feijão-de-rola (Phaseolus patyróides L.), centrosema (Centrosema sp), erva-de-ovelha (Stylosanthes humilis), manda pulão ( Croton sp.), bredo (Amaranthus sp.) dentre outras. Diante dessas características, Pereira Filho e Vieira (2006) afirmam ser natural que todos os caminhos apontem em direção a pecuária como a melhor alternativa de exploração sustentada da Caatinga.

Ovinos e caprinos no Nordeste do Brasil são criados quase sempre extensivamente na Caatinga, tendo como fonte alimentar a forragem oriunda da vegetação nativa, e, na maioria das vezes, em condições de superpastejo, prática apontada como um dos principais fatores de degradação da Caatinga nativa em grande parte do semi-árido.

Por outro lado, as respostas às mudanças no ambiente das comunidades vegetais, utilizadas com pastejo, representam importante fator para se determinar o potencial de uma pastagem nativa (Thurow et al 1988; Thurow and Hussein 1989). Portanto, a utilização de animais em regime de pasto deve proceder do conhecimento da preferência alimentar da espécie animal, das condições de pastagem e de pastejo, ao longo do ano.

Os animais, particularmente os ruminantes quando mantidos em pastejo expressam toda sua habilidade de seleção, seja por diferentes espécies forrageiras, seja por partes da planta. Em áreas de pastagem nativa, Gihad (1976) destaca que os ovinos e caprinos compõem suas dietas com cerca de 60% e 20% de gramíneas, 30% e 20% de ervas de folha larga, 10 e 60% de arbustos, respectivamente, o que levou os autores a denominares os ovinos de pastejadores e os caprinos de ramoneadores. Todavia, Bartolomé et al (1998) ressaltam que ovinos e caprinos se comportam como pastejadores oportunistas, que dependendo da diversidade florística podem apresentar estilos diferentes. Já Animut et al (2005) observaram que a seletividade de caprinos e ovinos varia ao longo do ano, principalmente em função da disponibilidade de gramíneas e dicotiledôneas herbáceas. Fato também observado por Leite et al (1995), ao estudarem o efeito do pastejo combinado de ovino com caprino sobre o desempenho da pastagem e dos animais no Nordeste do Brasil.

Santos (1994) destaca que o hábito alimentar e a capacidade dos animais em selecionar o alimento devem ser considerados, visto a sua influência na qualidade e quantidade do alimento ingerido, bem como na composição florística (Pereira Filho et al 1999) do estrato herbáceo de pastagens nativas. Araújo Filho et al (1996), avaliando a composição botânica da dieta de caprinos e ovinos, observaram que a preferência alimentar dos ovinos e caprinos foi mais bem caracterizada no período de transição da estiagem para estação das chuvas, com os ovinos apresentando 25% de gramíneas e os caprinos apenas 8,1%; em relação aos arbustos e árvores, a dieta dos caprinos apresentou 64,3% e a dos ovinos 30,7%. Diante desses resultados, os autores concluíram que: Em termos de vegetação da Caatinga, os caprinos e ovinos apresentam alto grau de aproveitamento, enquadrando-se como selecionadores intermediários de elevada flexibilidade alimentar, em função da época do ano, disponibilidade e qualidade da pastagem e; os ovinos selecionam ocasionalmente arbustos e árvores, preferindo mais as espécies herbáceas e menos as lenhosas do que os caprinos. Outros trabalhos como o de Pfister and Malechek (1986a,b) relatam que particularizando a vegetação herbácea, os ovinos apresentam preferência e seletividade pelas gramíneas, enquanto os caprinos preferem as dicotiledôneas.

Parte das pastagens nativas do estado do Ceará tem potencial de produção de forragem que justificam o emprego de técnicas de melhoramento, dentre as quais, destaca-se o raleamento da Caatinga. A produção de matéria seca da fitomassa do estrato herbáceo da caatinga varia de 670,0 a 2340,0 kg/ha.ano e está correlacionada ao percentual de cobertura e densidade das espécies lenhosas, estação do ano, condições climáticas e sítios ecológicos (Araújo Filho 1992). Observações semelhantes sobre a produção de fitomassa de pastagem nativa de outros ecossistemas são reportadas por Nguluve and Muir (1999) em Moçambique e por Dahlanuddin (2001) na Idonésia

Associada às técnicas de manipulação da Caatinga destaca-se a necessidade do uso de métodos de pastejo que conduzam a estabilização natural da vegetação ao longo dos anos, e desta forma ressalta Richardson et al (2005), possa garantir a exploração sustentável do ecossistema. Para Smith (1965), o uso do pastejo múltiplo não significa, necessariamente, aumento da capacidade de pastejo, sendo a produção máxima alcançada de acordo com a combinação de espécies e do número de animais utilizado. O grande consumo de gramíneas por ovinos acarreta elevada pressão de pastejo sobre este componente da vegetação, com conseqüente decréscimo na sua biomassa. Araújo Filho et al (1996) sugerem a avaliação e o uso do pastejo alternado de ovinos e caprinos, com vistas à recuperação e estabilização do estrato herbáceo da pastagem, ao longo dos anos.

Este trabalho foi conduzido com o objetivo de avaliar a disponibilidade de matéria seca da fitomassa do estrato herbáceo de uma Caatinga raleada, submetida ao pastejo alternado ovino-caprino, com três taxas de lotação e em diferentes épocas do ano.


Material e métodos

O trabalho foi realizado na fazenda Crioula, no Centro Nacional de Pesquisa de Caprinos-CNPC/Embrapa, localizada na zona fisiográfica do Sertão Cearense, município de Sobral-CE. A área do experimento apresentava relevo suavemente ondulado (declividade de 3 a 8%) a ondulado (8 a 15%). Os solos dominantes foram dos seguintes grupos: solos litólicos distróficos, planossolos e brunos não-cálcicos. O clima é do tipo BShw' (Miller 1971), caracterizado por uma estação chuvosa (janeiro a junho), com precipitação média de 722mm e outra seca (julho a dezembro), apresentando média de 36,8mm. A temperatura média anual em torno de 28oC e a média anual da umidade relativa do ar de 69% (CNPC 1989). Na Tabela 1 é descrita a precipitação pluvial na fazenda Crioula durante o período experimental.


Tabela 1.  Variações mensais das precipitações pluviais (mm), durante o período experimental, na fazenda Crioula, CNPC-Embrapa, Sobral-CE, Brasil

Mês

Ano

1987

1988

1989

1990

1991

1992

1993

1994

Janeiro

37

66

146

19

209

122

48

121

Fevereiro

79

246

25

155

90

101

86

280

Março

400

119

239

90

187

127

112

239

Abril

62

434

386

200

114

31

184

506

Maio

23

253

211

80

133

30

36

118

Junho

42

104

14

27

-

21

10

186

Julho

-

-

25

30

2

1

9

-

Agosto

-

-

-

-

2

-

-

-

Setembro

-

-

-

-

-

-

-

-

Outubro

-

-

-

-

-

-

-

-

Novembro

-

-

-

8

-

-

-

-

Dezembro

-

40

128

-

-

-

-

-

Total

643

1262

1174

609

737

433

485

1450


A vegetação da área experimental encontrava-se em estágio inicial de sucessão secundária, com três estratos distintos: arbóreo, arbustivo e herbáceo. Entre as plantas lenhosas, havia predominância de marmeleiro (Croton sonderianus Muell. Arg.), além da presença do mofumbo (Combretum leprosum Mart.), pau-branco (Auxemma oncocalyx Taub.), catingueira (Caesalpinia bracteosa Tul.), jurema-preta (Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir.), sabiá (Mimosa caesalpinifolia Bent.) e juazeiro (Zizyphus juazeiro Mart.). No componente herbáceo destacaram-se gramíneas, como as milhãs (Brachiaria plantaginea Hitchc ePanicum sp.), capim de roça (Digitaria sp.), capim-rabo de raposa (Setaria sp.) e capim-panasco (Aristida setifolia H. B. K.); entre as dicotiledôneas herbáceas, ocorreu predominância de bamburral (Hyptis suaveolens Point), mata pasto (Senna obtusifolia), vassourinha de botão (Borreria sp.), azulão (Centratherum sp.), mandapulão (Croton sp.) e bredo (Amaranthus spinosus). A vegetação da área experimental foi submetida ao raleamento, consistindo, basicamente no controle do marmeleiro, deixando uma cobertura lenhosa de 30 a 40%.

Foram utilizadas ovelhas da raça Morada Nova e cabras sem raça definida (SRD), recém desmamadas, com peso médio de 13,6 kg para as borregas e 11,5 kg para as cabritas. Os animais foram distribuídos nos piquetes experimentais de 4, 6 e 8 ha, em grupos de 10 animais, correspondendo às seguintes taxas de lotação: 2,5 animal/ha, 1,67 animal/ha e 1,25 animal/ha. O método de pastejo foi o alternado ovino-caprino, iniciando com o pastejo exclusivo de ovinos, que ocuparam as parcelas de janeiro de 1988 a dezembro de 1991, seguido do pastejo exclusivo de caprinos, de fevereiro de 1992 a dezembro de 1994.

A disponibilidade de matéria seca da parte aérea foi determinada em cada piquete e para todas as épocas de avaliação, utilizando-se de uma moldura de ferro chato de 1,0m x 0,25m (Araújo Filho et al 1986), obtendo-se a disponibilidade média por moldura, a qual foi usada para estimar a disponibilidade por hectare. Portanto, a disponibilidade de matéria seca correspondeu à quantidade de material disponível no momento da coleta, visto que o objetivo foi avaliar a disponibilidade nas três lotações e nas 19 épocas. A vegetação foi separada em gramíneas e dicotiledôneas herbáceas e cortadas a 2 cm do solo. Foram feitas 19 coletas, distribuídas nos meses de janeiro, março, junho, setembro e novembro, diversificadas no período de 1988 a 1994. Em cada piquete e para todas as épocas foram coletadas 20 amostras, tomadas ao acaso, em transectos, segundo o sentido Norte, Sul, Leste e Oeste do ponto central de cada piquete. A partir das 20 amostras foi preparada uma amostra composta para gramíneas e outra para dicotiledôneas herbáceas, as quais foram utilizadas para determinação da matéria seca (Silva 1990).

O delineamento adotado foi em parcelas subdivididas, com 2 blocos e tratamentos em esquema fatorial 3 x 19 (3 taxas de lotação nas parcelas e 19 épocas do ano nas subparcelas). Os dados foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey ao nível de 5% de significância, utilizando o programa estatístico SAS (2000).


Resultados e discussão

Somente a disponibilidade (kg/ha) de matéria seca de dicotiledôneas herbáceas não foi influenciada pela interação entre taxa de lotação e época do ano (p>0,05), para as demais variáveis houve interação entre os fatores estudados (p<0,05), as quais são desdobradas e apresentadas nas tabelas 2, 3, 4, 5 e 6. Esses resultados indicam que a produção de fitomassa do estrato herbáceo, nas diferentes épocas do ano, apresentou grande variação, refletindo a importância dos períodos de chuvas e de estiagem na avaliação da disponibilidade de matéria seca do estrato herbáceo em Caatinga raleada, sobretudo quando submetida ao pastejo alternado ovino-caprino. Esse comportamento refletiu na elevada disponibilidade de matéria seca durante o período das chuvas e forte queda no final do período seco, resultando em grande variação na disponibilidade da fitomassa do estrato herbáceo nas diferentes épocas do ano, fato que pode ser explicado pelos elevados coeficientes de variação.

A disponibilidade de matéria seca (kg/ha) variou entre lotações em seis das 19 épocas do ano avaliadas, sendo duas (jun/1988 e set/1988), durante o pastejo de ovinos, e quatro (jun/1993; set/1993; set/1994; nov/1994), quando do pastejo com caprinos (Tabela 2).


Tabela 2.   Disponibilidade média de matéria seca da parte aérea (kg/ha) do estrato herbáceo de uma Caatinga raleada, submetida ao pastejo alternado ovino-caprino, com três taxas de lotação ao longo de dezenove épocas do ano, em Sobral, Ceará

Épocas

(Mês/Ano)

Lotação animal

2,5 ovinos/ha

1,67 ovino/ha

1,25 ovino/ha

Jan/1988

18,75 Aa

39,10 Aa

25,60 Aa

Mar/1988

1217,15 Abc

1589,10 Ac

1395,75 Ac

Jun/1988

3210,90 Be

2066,95 Ac

2335,50 Ad

Set/1988

1881,20 Bcd

1134,90 Abc

1374,15 Abc

Mar/1989

336,80 Aab

351,60 Aab

668,80 Ab

Set/1989

712,55 Ab

620,90 Aab

1068,20 Abc

Nov/1989

373,40 Aab

266,40 Aa

755,55 Abc

Jan/1991

899,75 Abc

929,60 Ab

757,40 Abc

Mar/1991

941,20 Abc

1194,60 Abc

1106,95 Abc

Jun/1991

1127,00 Abc

778,05 Aab

679,75 Ab

Set/1991

603,50 Aab

309,45 Aab

367,15 Aab

 

2,5 caprinos/ha

1,67 caprino/ha

1,25 caprino/ha

Mar/1992

1105,00 Abc

1026,70 Abc

1044,50 Abc

Jun/1993

1842,20 Bcd

937,90 Ab

544,50 Aab

Set/1993

981,60 Bbc

169,80 Aa

60,60 Aab

Nov/1993

338,20 Aab

42,35 Aa

15,35 Aa

Mar/1994

1114,50 Abc

1343,45 Abc

1000,90 Abc

Jun/1994

2203,15 Ad

1908,70 Ac

1804,15 Acd

Set/1994

1681,05 Bcd

1226,15 Abbc

642,70 Aab

Nov/1994

1521,85 Bc

1138,50 Abbc

615,75 Aab

CV

41,8%

Médias seguidas pela mesma letra maiúscula no sentido de linha e minúscula na coluna não diferem estatisticamente (p>0,05) entre si pelo teste Tukey. CV = Coeficiente de Variação


Estes resultados vêm corroborar com os obtidos por Araújo Filho et al (2002) quando avaliaram a disponibilidade de fitomassa do estrato herbáceo em caatinga raleada, obtendo resultados de 283,5 kg/ha no final do período de estiagem, de 484,4 kg/ha no início das chuvas e de 1190,4 kg/ha no final do período chuvoso, resultados que levaram os autores a concluírem que a disponibilidade de matéria seca do estrato herbáceo e de seus componentes é altamente sensível às flutuações anuais da pluviosidade. Outros autores como Heady and Child (1994) já relatavam que a produção do estrato herbáceo em áreas de manipulação da vegetação lenhosa tem relação direta com as condições de chuvas.

É importante destacar que a disponibilidade de matéria seca, ao longo do primeiro ano de pastejo de ovinos (jan/1988 a set/1988), apresentou valores próximos aos obtidos nas épocas de mar/1994 a set/1994, período final da ocupação por caprinos, indicando que a alternância da espécie animal manteve o nível de produção de matéria seca. Vale salientar que independentemente da lotação, a maior disponibilidade de matéria seca em kg/ha foi obtida em jun/1988, ou seja, no final do período das chuvas.

A disponibilidade de matéria seca do estrato herbáceo aumentou gradualmente nas três primeiras épocas de ocupação por ovinos, mantendo, em seguida, uma tendência de redução até a substituição dos ovinos por caprinos. Segundo Pfister and Malechek (1986a) isto pode ser relacionado ao fato dos ovinos maximizarem a utilização do estrato herbáceo e minimizarem a dos estratos arbustivo e arbóreo e os caprinos (Ngwa et al 2000) agirem de maneira oposta, preferindo mais as plantas lenhosas e menos as herbáceas. Outro aspecto a ser considerado é que, dependendo da disponibilidade de cada componente botânico da pastagem, ruminantes como bovinos, ovinos e caprinos modificam a composição botânica de suas dietas, fato observado por Squires (1980) que ao trabalhar com bovinos, ovinos e caprinos mantidos em bosques de eucalipto, constatou que árvores e arbustos foram os componentes principais da dieta das três espécies à medida que a disponibilidade das plantas herbáceas foi reduzida a menos de 180 kg/ha.

Independentemente da época do ano e da espécie animal que ocupava o piquete, a maior disponibilidade de matéria seca em kg/animal (Tabela 3) foi verificada na lotação 1,25 animal/ha; e, independentemente da lotação, a maior disponibilidade de matéria seca foi obtida no final do período chuvoso, ou seja, em jun/1988.


Tabela 3.  Disponibilidade média de matéria seca da parte aérea (kg/animal) do estrato herbáceo de uma Caatinga raleada, submetida ao pastejo alternado ovino-caprino, com três taxas de lotação ao longo de dezenove épocas do ano, em Sobral, Ceará

Épocas

(Mês/Ano)

Lotação animal

2,5 ovinos/ha

1,67 ovino/ha

1,25 ovino/ha

Jan/1988

7,50 Aa

26,46 Aa

20,48 Aa

Mar/1988

486,86 Abc

953,46 Bc

1116,60 Bcd

Jun/1988

1284,36 Ad

1240,17 Ac

1868,40 Be

Set/1988

752,48 ABc

680,94 Abc

1099,32 Bcd

Mar/1989

134,72 Aab

210,96 Abab

535,04 Bbc

Set/1989

285,02 Aab

372,54 Aab

884,56 Bc

Nov/1989

149,36 Aab

159,84 Aab

604,44 Bbc

Jan/1991

359,48 Ab

557,76 Ab

605,92 Abc

Mar/1991

376,48 Ab

716,76 ABbc

885,56 Bc

Jun/1991

450,80 Ab

466,83 Ab

543,72 Abc

Set/1991

241,4 Aab

185,67 Aab

293,72 Abc

 

2,5 caprinos/ha

1,67 caprino/ha

1,25 caprino/ha

Mar/1992

442,00 Abc

616,02 ABbc

835,60 Bc

Jun/1993

736,88 Ac

562,24 Ab

435,60 Ab

Set/1993

392,64 Abc

101,88 Aa

48,48 Aa

Nov/1993

135,28 Aab

25,41 Aa

12,28 Aa

Mar/1994

445,80 Abc

806,07 Bbc

800,72 Bc

Jun/1994

881,26 Ac

1145,22 ABc

1443,32 Bd

Set/1994

672,42 Abc

735,69 Abc

514,16 Abc

Nov/1994

608,74 Abc

683,10 Abc

492,60 Abc

CV

38,7%

Médias seguidas pela mesma letra maiúscula no sentido de linha e minúscula na coluna não diferem estatisticamente (p>0,05) entre si pelo teste Tukey. CV = Coeficiente de Variação


Por outro lado, as menores disponibilidades foram obtidas em jan/1988 e nov/1993, refletindo, provavelmente, a estiagem que ocorreu nos anos de 1987 e 1993. O que pode ser visualizado nos dados de precipitação pluviométrica descrito no material e métodos, isto é, sem ocorrência de chuva nos períodos de junho a dezembro de 1997 e de julho a novembro de 1993.

Durante o pastejo de ovinos, a disponibilidade (kg/ha) de matéria seca de gramíneas variou (p<0,05) entre lotações somente nas épocas de jun/1988 e set/1988, no primeiro ano do experimento (Tabela 4). Já durante o pastejo por caprinos, ocorreram diferenças entre lotações nas épocas jun/1993, set/1993, jun/1994, set/1994 e nov/1994.


Tabela 4.  Disponibilidade média de matéria seca da parte aérea de gramíneas (kg/ha) no estrato herbáceo de uma Caatinga raleada, submetida ao pastejo alternado ovino-caprino, com três taxas de lotação ao longo de dezenove épocas do ano, em Sobral, Ceará

Épocas

(Mês/Ano)

Lotação animal

2,5 ovinos/ha

1,67 ovino/ha

1,25 ovino/ha

Jan/1988

4,00 Aa

2,00 Aa

5,60 Aa

Mar/1988

533,95 Aab

349,85 Aab

827,45 Ab

Jun/1988

1895,50 Bc

460,75 Aab

1095,00 Ab

Set/1988

1241,55 Bbc

318,60 Aab

814,40 ABb

Mar/1989

241,60 Aab

239,10 Aab

408,00 Aab

Set/1989

225,25 Aa

142,75 Aab

296,55 Aab

Nov/1989

171,60 Aa

46,80 Aab

268,80 Aab

Jan/1991

48,55 Aa

35,30 Aa

45,10 Aa

Mar/1991

112,20 Aa

164,30 Aab

77,45 Aa

Jun/1991

178,85 Aa

78,40 Aab

40,95 Aa

Set/1991

2,85 Aa

4,40 Aa

9,15 Aa

 

2,5 caprinos/ha

1,67 caprino/ha

1,25 caprino/ha

Mar/1992

112,80 Aa

217,10 Aab

73,25 Aa

Jun/1993

1602,30 Bc

693,90 Ab

152,30 Aab

Set/1993

917,85 Bb

157,15 Aab

8,40 Aa

Nov/1993

338,20 Aab

33,30 Aa

1,80 Aa

Mar/1994

866,05 Ab

941,90 Ab

487,05Aab

Jun/1994

1677,20 Bc

1126,35 ABb

517,20 Aab

Set/1994

1271,65 Bbc

800,40 ABb

228,70 Aab

Nov/1994

1263,15 Bbc

833,50 ABb

310,55 Aab

CV

18,0%

Médias seguidas pela mesma letra maiúscula no sentido de linha e minúscula na coluna não diferem estatisticamente (p>0,05) entre si pelo teste Tukey. CV = Coeficiente de Variação


Nas três taxas de lotação avaliadas, a disponibilidade de matéria seca de gramíneas diminuiu à medida que se prolongou o pastejo por ovinos. Papachristou et al (2005) ressaltam a preferência dos ovinos pelo estrato herbáceo, e que em áreas nativas e sob lotação contínua e duradoura os ovinos reduzem a presença das gramíneas entre as espécies herbáceas.

Em cada taxa de lotação, as épocas incluídas no período chuvoso apresentaram maiores disponibilidades de gramíneas em relação àquelas do período seco. Em termos gerais, constatou-se que o pastejo por ovinos reduziu a disponibilidade de fitomassa de gramíneas. Se observada a época jun/1988, em relação à jun/1991, a redução foi de 80%, mas, se considerada a época set/1988, em relação à set/1991, a queda foi superior a 95%. Connor e Roux (1995) destacam a influência da variabilidade de chuvas nas diferentes estações ou período do ano e dos sistemas de pastejo de ovinos sobre a composição botânica de comunidades vegetais caracterizadas por pequenos arbustos, gramíneas perenes e/ou anuais e dicotiledôneas efêmeras.

Araújo Filho et al (1996), trabalhando em áreas de Caatinga, avaliaram a composição botânica da dieta de ovinos e caprinos, em pastejo combinado e concluíram que os ovinos preferiram mais gramíneas e menos espécies lenhosas do que os caprinos, no início da estação seca, enquadrando-os como selecionadores intermediários de elevada flexibilidade alimentar em função da época e da disponibilidade de forragem e que esse método de pastejo conduz a uma alta pressão de pastejo sobre as gramíneas. Essa preocupação foi de certa forma, confirmada pelos resultados de Silva et al (1999), que avaliaram a terminação de ovinos em pastejo de curta duração e concluíram que, mesmo obtendo elevados índices de produção, o pastejo exclusivo por ovinos e praticado de forma contínua, ao longo dos anos, reduziu a participação das gramíneas e desestabilizou a composição florística do estrato herbáceo.

Como a disponibilidade de gramíneas obtida no primeiro ano de experimento (pastejo com ovinos), foi estatisticamente igual à observada no último ano do experimento (pastejo com caprinos), permite-se inferir que o pastejo por ovinos pode eliminar as gramíneas, ao passo que a sua substituição por caprinos pode restabelecê-las e permitir a exploração racional do estrato herbáceo da Caatinga raleada.

As diferenças na disponibilidade de matéria seca de gramíneas (kg/ha) observadas entre taxas de lotação também foram verificadas quando expressas em kg/animal, com a maior disponibilidade ocorrendo na lotação de 1,25 animal/ha (Tabela 5), refletindo o efeito da maior área por ovino ou caprino. Quando da ocupação por caprinos, a diferença foi caracterizada nas épocas jun/1993 e set/1993, com as maiores disponibilidades ocorrendo na lotação de 2,5 animais/ha. Já nas épocas inclusas no ano de 1994, período de restabelecimento das gramíneas na área, não foi observado diferença (p>0,05) entre taxa de lotação.


Tabela 5.  Disponibilidade média de matéria seca da parte aérea de gramíneas (kg/animal)  no estrato herbáceo de uma Caatinga raleada, submetida ao pastejo alternado ovino-caprino, com três taxas de lotação ao longo de dezenove épocas do ano, em Sobral, Ceará

Épocas

(Mês/Ano)

Lotação animal

2,5 ovinos/ha

1,67 ovino/ha

1,25 ovino/ha

Jan/1988

1,60 Aa

1,20 Aa

4,48 Aa

Mar/1988

213,58 Aab

209,45 Aab

661,96 Bbc

Jun/1988

757,40 Bc

276,45 Aab

876,00 Bc

Set/1988

496,62 Abbc

191,16 Aab

651,52 Bbc

Mar/1989

96,64 Aab

143,46 Aab

326,40 Aab

Set/1989

90,10 Aab

85,65 Aab

237,24 Aab

Nov/1989

68,64 Aab

28,08 Aa

215,04 Bab

Jan/1991

19,42 Aa

21,18 Aa

36,08 Aa

Mar/1991

44,88 Aab

98,58 Aab

61,96 Aab

Jun/1991

71,54 Aab

47,04 Aa

32,76 Aa

Set/1991

1,14 Aa

2,64 Aa

7,32 Aa

 

2,5 caprinos/ha

1,67 caprino/ha

1,25 caprino/ha

Mar/1992

45,12 Aab

130,26 Aab

58,60 Aab

Jun/1993

640,92 Bbc

416,34 ABb

121,84 Aab

Set/1993

367,14 Bb

94,29 ABab

6,72 Aa

Nov/1993

135,28 Aab

19,98 Aa

1,44 Aa

Mar/1994

346,42 Ab

565,14 Ab

389,64 Ab

Jun/1994

670,88 Abc

675,81 Ab

413,76 Ab

Set/1994

508,66 Abc

480,24 Ab

182,96 Aab

Nov/1994

505,26 Abc

500,10 Ab

248,44 Aab

CV

18,3%

Médias seguidas pela mesma letra maiúscula no sentido de linha e minúscula na coluna não diferem estatisticamente (p>0,05) entre si pelo teste Tukey. CV = Coeficiente de Variação


Mais uma vez pode se observar que o momento mais crítico para a vegetação e consequentemente para os animais, independentemente da lotação animal, ocorreu durante o período de estiagem (set/1991) e quando os ovinos ocupavam a área (Tabela 5), levando ao quase desaparecimento do componente gramínea. Resultados parecidos foram reportados por Connor e Roux (1995), que avaliaram as mudanças na vegetação herbácea e arbustiva de regiões semi-áridas da África do Sul e observaram que gramíneas perenes e arbustos foram fortemente influenciados pelo regime de chuvas, sendo que as gramas perenes quase foram eliminadas pelo pastejo dos ovinos durante o verão.

Em termos de disponibilidade (kg/ha) de matéria seca de dicotiledôneas herbáceas, não houve efeito (p>0,05) para interação (taxa de lotação x época), ocorrendo apenas efeito (p<0,05) de época do ano (Figura 1).


Figura 1.  Disponibilidade média de matéria seca da parte aérea de dicotiledôneas herbáceas (kg/ha)
no estrato herbáceo de uma Caatinga raleada, submetida ao pastejo alternado ovino-caprino,
com três taxas de lotação ao longo de dezenove épocas do ano, em Sobral, Ceará


Observa-se na Figura 1 que a maior disponibilidade de matéria seca de dicotiledôneas ocorreu em jun/1988, no início do experimento, quando os ovinos ainda tinham elevada disponibilidade de gramíneas, e que, em função de sua preferência por esse componente florístico, permitia maior disponibilidade de dicotiledôneas na área.

Com a intensificação do pastejo de ovinos e conseqüente diminuição das gramíneas, ocorreu leve redução na disponibilidade de dicotiledôneas, diminuindo de 1388,0 kg/ha obtido em jun/1988, para 924,3 kg/ha verificada em mar/1992, período de estabelecimento do pastejo dos caprinos (Figura 1). Por outro lado, o pastejo continuado dos caprinos reduziu a disponibilidade de dicotiledôneas, que atingiu apenas 416,4 kg/ha em set/1994, demonstrando que os caprinos têm predileção pelas plantas de folhas largas, o que permitiu a recuperação das gramíneas nas áreas estudadas.

A disponibilidade (kg/animal) de matéria seca de dicotiledôneas herbáceas variou entre taxa de lotação em oito épocas do ano, com cinco durante o pastejo de ovinos (mar/1988, jun/1988, set/1989, nov/1989 e mar/1991) e três no de caprinos (mar/1992, mar/1994 e jun/1994), sempre com a menor disponibilidade de kg/animal ocorrendo na lotação 2,5 animal/ha e com tendência da maior disponibilidade ocorrer na lotação 1,25 animal/ha (Tabela 6).


Tabela 6.  Disponibilidade média de matéria seca da parte aérea de dicotiledôneas herbáceas (kg/animal) no estrato herbáceo de uma Caatinga raleada, submetida ao pastejo alternado ovino-caprino, com três taxas de lotação ao longo de dezenove épocas do ano, em Sobral, Ceará

Épocas

(Mês/Ano)

Lotação Animal

2,5 ovino/ha

1,67 ovinos/ha

1,25 ovino/ha

Jan/1988

5,90 Aa

22,26 Aab

16,00 Aa

Mar/1988

273,48 Ab

743,55 Bcd

454,64 Abc

Jun/1988

526,96 Ab

963,72 Bd

992,40 Bd

Set/1988

255,86 Aab

489,78 Abc

447,80 Abc

Mar/1989

38,08 Aab

67,50 Aab

208,64 Aab

Set/1989

194,92 Aab

286,92 Ab

617,32 Bc

Nov/1989

90,62 Aab

131,76 Abab

386,36 Bbc

Jan/1991

340,48 Ab

536,58 Abc

569,84 Ac

Mar/1991

331,6 Ab

618,18 Bc

823,60 Bcd

Jun/1991

379,26 Ab

419,79 Abc

510,96 Abc

Set/1991

240,26 Aab

183,03 Aab

286,40 Ab

 

2,5 caprinos/ha

1,67 caprino/ha

1,25 caprino/ha

Mar/1992

396,88 Ab

485,73 Abc

777,00 Bcd

Jun/1993

95,96 Aab

146,40 Aab

313,76 Abc

Set/1993

25,50 Aab

7,59 Aa

41,76 Aab

Nov/1993

0,01 Aa

5,40 Aa

10,80 Aa

Mar/1994

99,46 Aab

240,03 ABab

411,08 Bbc

Jun/1994

210,38 Aab

469,44 Abc

1029,56 Bd

Set/1994

163,76 Aab

255,45 Aab

331,20 Abc

Nov/1994

103,28 Aab

183,00 Aab

244,16 Aab

CV

42,6%

Médias seguidas pela mesma letra maiúscula no sentido de linha e minúscula na coluna não diferem estatisticamente (p>0,05) entre si pelo teste Tukey. CV = Coeficiente de Variação


Em cada taxa de lotação observou-se que a manutenção dos ovinos nas áreas proporcionou, inicialmente, o aumento na disponibilidade de matéria seca de dicotiledôneas herbáceas (mar/1988 e jun/1988), seguida de pequena redução ao final do período de ocupação (set/1991). Essa resposta reflete a seleção da dieta (Pfister and Malechek 1986a) e o consumo voluntário de forragem (Pfister and Malechek 1986b) de ovinos e caprinos em pastagem nativa do Nordeste do Brasil, ou seja, de flexibilidade na composição botânica da dieta.

Em regiões de clima semi-árido como a Caatinga, normalmente, a disponibilidade de gramíneas e de dicotiledôneas herbáceas é altamente influenciada pelas condições climáticas (Araújo Filho et al 1996), especialmente com relação à estação chuvosa, seja quanto à intensidade, seja com relação à freqüência; ou quanto (Pereira Filho et al 2006) à distribuição das chuvas ao longo do ano, fato muito bem caracterizado neste trabalho. Por outro lado, acredita-se que o estrato herbáceo, quando submetido ao pastejo de ovinos e/ou caprinos, mereça maior detalhamento nos estudos, pois, demanda maior conhecimento do comportamento de pastejo desses animais (Herselman et al 1999), das características agronômicas e ecológicas do solo (Hiernaux et al 1999), além da composição florística do estrato herbáceo (Ngwa et al 2000). Assim sendo, acredita-se que a exploração pastoril dos diferentes componentes florísticos do estrato herbáceo possa ocorrer de forma mais eficiente, com maior disponibilidade de matéria seca de melhor qualidade e conseqüente melhoria no desempenho animal, resultando, ao longo dos anos, em utilização sustentada do estrato herbáceo da Caatinga raleada.

Os resultados indicam que as dicotiledôneas herbáceas foram as espécies mais sensíveis às variações ambientais, principalmente se considerado o período seco de 1993, quando a disponibilidade de matéria seca dessas espécies foi praticamente nula. Isto indica sua menor resistência à seca que a componente gramínea.

Com a substituição dos ovinos pelos caprinos, as disponibilidades das gramíneas e das dicotiledôneas herbáceas tiveram comportamento inverso. O pastejo por caprino possibilitou o aumento gradual da disponibilidade de matéria seca das gramíneas, enquanto as dicotiledôneas herbáceas tiveram sua matéria seca reduzida gradualmente até se estabilizarem. Estas afirmações são, na sua maioria, contempladas na revisão de Baumont et al (2000) sobre a relação das características da forragem com o consumo e o comportamento dos ruminantes.


Conclusões


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Received 22 November 2005; Accepted 18 September 2006; Published 1 January 2007

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