Livestock Research for Rural Development 17 (11) 2005 Guidelines to authors LRRD News

Citation of this paper

Comparação entre a composição mineral de esterco e vermicompostos originários de bubalinos e bovinos

D Pereira Borges da Costa, V Cruz Rodrigues, J Castro Galdino da Silva, R Castro Mourão e J B Rodrigues de Abreu

I Z-U F Rural R J, Seropédica-R J, 23890-000, Brazil
zoodoc@ufrrj.br   ;   victor@ufrrj.br


Resumo

Objetivou-se com esta pesquisa avaliar a composição mineral do esterco e do vermicomposto provenientes de bovinos e bubalinos. Cada tipo de esterco foi obtido de baias com lotes separados de oito bovinos e oito búfalos confinados, que receberam a mesma dieta. Após a completa estabilização, oito montes de 24 kg, quatro com esterco de bovinos e quatro com esterco de bubalinos, foram colocados em galpão coberto com piso concretado e distanciados de 1,5 m. Um lote de 100 minhocas, pesando em média 26 g, foi colocado em cada monte de esterco no mesmo dia e 40 dias depois uma amostra pesando 200 g de vermicomposto foi retirada de cada monte para análise química. O delineamento experimental usado foi inteiramente casualizado em esquema fatorial 2 x 2, dois tipos de adubo (esterco e vermicomposto) e dois grupos genéticos (bovinos e bubalinos).

O esterco dos bovinos teve maior teor de nitrogênio (24,7 vs 23,6 g/kg), potássio (18,5 vs 11,0 g/kg) e cálcio (27,9 vs 25,1 g/kg) do que o dos bubalinos, mas foi semelhante para o fósforo e magnésio. Os vermicompostos provenientes do estrume de bovinos e bubalinos resultaram em teores similares de nitrogênio, fósforo e magnésio, enquanto o vermicomposto procedente do estrume de bubalinos foi superior para potássio (19,0 vs 16,5 g/kg) e cálcio (33,4 vs 32,4 g/kg). Os vermicompostos procedentes dos estrumes de bovinos e bubalinos continham concentrações maiores de fósforo (11,1 vs 8,6 g/kg) e magnésio (7,1 vs 5,9 g/kg) em relação ao esterco.

Concluiu-se que as minhocas acrescentam minerais de origem endógena ao vermicomposto e sua ação é mais eficaz quando criadas em esterco originário de bubalinos.

Palavras-chave: minerais, minhoca, vermicomposto



Comparison between mineral composition of manure and vermicompost obtained from cattle and buffaloes

Abstract

The objective of this research was to evaluate the mineral composition of manure and vermicompost from cattle and buffaloes. Each manure type was obtained from eight cattle and eight buffaloes confined and fed under the same diet. After complete stabilization, eight hills of 24 kg, four with cattle manure and four with buffalo manure were placed on a concrete floor and separated 1,5 m from each other in a covered house. 100 earthworms weighing 26 g was placed in each manure hill at the same day and 40 days later one sample weighing 200 g of vermicompost was taken from each manure hill for chemical analysis. The experimental design was a completely randomized in factorial scheme 2 x 2, two manure types (manure and vermicompost) and two animal genetic groups (cattle and buffaloes).

The cattle manure presented higher nitrogen (24,7 vs 23,6 g/kg), potassium (18,5 vs 11,0 g/kg) and calcium (27,9 vs 25,1 g/kg) content than manure from buffaloes, but it was similar for phosphorus and magnesium. The vermicompost from cattle and buffaloes manure were similar for nitrogen, phosphorus and magnesium, while the vermicompost from buffalo manure was higher for potassium (19,0 vs 16,5 g/kg) and calcium (33,4 vs 32,4 g/kg). Vermicompost from cattle and buffalo manures presented higher phosphorus (11,1 vs 8,6 g/kg) and magnesium (7,1 vs 5,9 g/kg) content in relation to original manure.

It is concluded that earthworms increase mineral content to vermicompost and their action is more efficient when raised in manure from buffaloes.

Key words: earthworm, minerals, vermicompost.


Introdução

A matéria orgânica tem sido considerada há milênios como o principal fator de fertilidade devido a sua influência positiva sobre as propriedades do solo e o crescimento vegetal. A matéria orgânica, entre outros efeitos, aumenta a disponibilidade de nutrientes, a capacidade de troca catiônica, a agregação das partículas do solo e a capacidade de retenção de água, diminui fósforo retido nas partículas do solo e é fonte de energia e nutrientes para microorganismos benéficos às plantas (Cfsemg 1999). Nos últimos anos a sua utilização vem ganhando grande destaque em diversos sistemas de produção, principalmente em pequenas propriedades, sendo uma prática complementar e alternativa à adubação com fertilizantes sintéticos.

Para realização de uma adubação correta com matéria orgânica é necessário conhecer a composição química do material a ser utilizado, considerando ainda a fertilidade do solo e as exigências nutricionais da planta. Normalmente não se considera o potencial de nutrientes no substrato nas adubações orgânicas, além de não haver precisão do teor de elementos químicos presentes no estrume de ruminantes confinados e no vermicomposto obtido com esse tipo de esterco.

De acordo com Soares et al (2004), estudando vermicompostos adquiridos no mercado, verificaram que os metais presentes não apresentavam concentrações que pudessem sugerir problemas de contaminação ambiental, caso usado como adubos, concluindo ainda que os vermicompostos possuem ação corretiva da acidez e contém macro e micronutrientes, principalmente cálcio, magnésio, potássio, enxofre, cobre e zinco.

O teor de matéria seca das fezes de bovinos está na faixa de 15 a 30% e contém material ingerido da dieta, parede celular de bactérias do rúmen, células microbianas do ceco e intestino grosso, resíduo de substâncias endógenas e células epiteliais desprendidas da parede do trato gastrintestinal. A proporção de materiais de origem dietética em relação àqueles de origem metabólica e endógena podem ser máximas quando dietas contendo substancial quantidade de alimentos de baixa digestibilidade são ingeridas. Inversamente, animais consumindo dietas de maior digestibilidade excretam fezes contendo muito pouco material de origem dietética. Cerca de 74% no nitrogênio fecal é de origem endógena, mas modificando-se o fornecimento dos nutrientes fermentáveis no rúmen e no intestino grosso, altera-se a quantidade de nitrogênio excretado nas fezes. Em bovinos consumindo elevados níveis de grãos ocorre um aumento na quantidade de nitrogênio excretado, provavelmente devido ao aumento da quantidade de amido chegando ao intestino grosso, aumentando-se o crescimento microbiano neste compartimento. As fezes servem para excreção de alguns resíduos endógenos, em particular, da bilirrubina e biliverdina. A secreção biliar é também o caminho de excreção típico para muitos elementos minerais que vão para as fezes (Teixeira 1996).

De acordo com Ranjhan e Pathak (1979), uma menor taxa de passagem da digesta pelo rúmen-retículo foi atribuída aos búfalos quando comparados aos bovinos, sendo uma das razões para maior digestibilidade da fibra bruta. Esta característica promove uma maior e melhor exposição do alimento aos microorganismos do rúmen. A menor taxa de passagem de bubalinos pode ser responsável pela maior concentração de ácidos graxos voláteis, nitrogênio bacteriano, amônia, cálcio e potássio. A maior taxa de amônia no sangue de bubalinos pode ser provocada pela menor taxa de passagem ou pela maior atividade proteolítica dos microorganismos.

Ezequiel (1987) ofereceu dietas semelhantes contendo níveis crescentes de nitrogênio para manutenção e ganho de peso, concluindo que bovinos perderam mais nitrogênio pela urina do que búfalos, e estes apresentaram menor estimativa de nitrogênio fecal metabólico e urinário endógeno e menor estimativa de requerimento total de proteína para mantença. Para verificar a capacidade de síntese e reciclagem da uréia endógena utilizando o 14C, Abdullah et al (1992) obtiveram resultados semelhantes para búfalos e bovinos, mas os búfalos excretaram menos uréia por unidade de tamanho metabólico, cujos resultados indicaram uma tendência para maior síntese de uréia pelos búfalos.

As relações entre fósforo ingerido e fósforo fecal mais urinário e entre cálcio ingerido e cálcio fecal mais urinário foram lineares para búfalos e zebuínos, cujos resultados sugeriram pouca diferença para o metabolismo de ambos os minerais. As conclusões do trabalho de Moran (1982) são indicativas de que os minerais presentes nas fezes são semelhantes para os dois grupos estudados.

O processo de compostagem e a ação das minhocas alteram qualitativa e quantitativamente a composição das substâncias húmicas e dos materiais orgânicos. O material humificado apresenta como vantagens maior capacidade de troca de cátions, maior retenção de umidade e mineralização mais lenta. O esterco bovino que passou pelo processo de vermicompostagem tem seu conteúdo de matéria orgânica humificada (ácidos fúlvicos, húmicos e humina) acrescido em até 30% (Aquino et al 1992). Soares e Cavalheiro (2004) observaram que as minhocas apresentam em seu metabolismo a capacidade de promover a degradação do material original, concentrando os nutrientes.

Os excrementos de minhocas aumentam três a onze vezes o teor de fósforo assimilável, de potássio e magnésio trocáveis no solo, e ainda elevam de cinco a dez vezes o teor de nitratos e em 30% o de cálcio, reduzindo a acidez da terra. A composição e as propriedades físico-químicas dos dejetos aceleram em até 60% o desenvolvimento de bactérias, protozoários e outros microrganismos, inclusive das bactérias que fixam o nitrogênio. Estes mesmos microrganismos multiplicados no processo tornam mais rápida a fermentação de restos vegetais e animais, que podem ser aproveitados pelas plantas (Tagliari 1995).

A partir do estrume de bovinos, Albanell et al (1988), Longo (1992), Lamin (1995), Coelho (1973) e Ferruzi (1986) encontraram para o vermicomposto os valores relacionados na Tabela 1.

Tabela 1 Característica química do vermicomposto de bovinos

Característica

Referências

Albanell et al 1988

Longo 1992

Lamin 1995

Coelho 1973

Ferruzi 1986

Matéria orgânica, %

47,7

30-50

45,6

14

50,12

Cinzas, %

52,3

 

47,3

2,0

 

Carbono oxidável, %

13,5

 

 

 

 

Umidade, %

 

50

36,4

83,2

46,16

PH

 

7,0

 

 

7,26

Nitrogênio total, %

1,5

1,5-3,0

1,23

0,3

1,87

Fósforo, %

 

2,5-5,0

 

0,17

2,19

Potássio, %

 

0,6-1,5

0,02

0,1

1,66

Carbono orgânico, %

 

20-28

 

 

 

Enxofre, %

 

 

0,5

 

 

Magnésio, %

 

 

0,44

 

1,06

Cálcio, %

 

 

1,22

0,1

7,81

Manganês, %

 

 

0,05

 

0,06

Cobre, %

 

 

0,03

 

0,02

Ferro, %

 

 

2,36

 

1,14

Zinco, %

 

 

0,05

 

0,06

Cobalto, %

 

 

 

 

0,002

Para as fezes de búfalos, Cockrill (1974) e Van Raij (1991) encontraram os seguintes valores para estercos de bovinos (Tabela 2).

Tabela 2 Característica química do esterco de búfalos e bovinos

Característica

Autor

Cockrill 1974

Van Raij 1991

Umidade, %

73,9

10 – 85

Cinzas, %

5,44

Nitrogênio, %

0,28

0,3 – 2,2

Fósforo, %

0,57

0,3 – 1,8

Potássio, %

0,11

0,5 – 1,5

Cálcio ,%

0,21

Ricci (1993) comparou um composto tradicional obtido a partir de 60% de esterco de bovinos e 40% de capim seco picado com o vermicomposto originado deste mesmo composto tradicional. A diferenças foram pequenas em relação ao teor de minerais, apesar do vermicomposto ter apresentado menor teor de umidade (Tabela 3).

Tabela 3. Características de diferentes compostos de estercos de bovinos

Característica

Composto

Composto tradicional

Vermicoposto

Umidade, %

54,4

50,4

Nitrogênio, %

1,37

1,35

Fósforo, %

1,43

1,32

Potássio, %

1,25

0,60

Cálcio, (%

3,8

2,82

Magnésio, %

0,66

0,27

Fonte: Ricci 1993

Em estudos comparativos, Rodrigues et al (2003) obtiveram superioridade porcentual das fezes de bovinos em relação aos bubalinos para os minerais nitrogênio, fósforo, cálcio e magnésio, enquanto para o potássio, o bubalino foi superior ao bovino. Os mesmos autores obtiveram ainda superioridade no teor de minerais no vermicomposto procedente de bovinos, para todos minerais estudados (Tabela 4).

Tabela 4 Características do esterco e vermicomposto de bovinos e bubalinos

Característica

Esterco

Vermicomposto

Bovino

Búfalo

Bovino

Búfalo

Nitrogênio, %

2,33

1,85

1,93

1,56

Fósforo, %

0,83

0,67

0,96

0,84

Cálcio, %

2,40

1,49

2,66

1,96

Magnésio, %

0,53

0,42

0,6

0,43

Potássio, %

0,60

0,68

0,52

0,48

Fonte: Rodrigues et al 2003

Os trabalhos sobre bovinos e bubalinos ainda não definiram as diferenças nos teores de minerais dos estrumes e dos vermicompostos entre estes dois grupos de animais. Os dados obtidos podem apoiar a recomendação de adubação tendo como base o estrume, bem como o vermicomposto desses substratos provenientes dessas duas espécies de ruminantes. Objetivou-se com este trabalho comparar a composição mineral de estercos de bovinos e de bubalinos e dos vermicompostos procedentes desses tipos de estrumes.


Material e métodos

O trabalho foi realizado no Instituto de Zootecnia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro nos meses de outubro a dezembro de 2001, empregando-se esterco de búfalos e de bovinos retirados do curral de confinamento. Para a decomposição dos estercos foi utiliza a minhoca vermelha da Califórnia, Eisenia foetida (Savigny 1826), pelo fato dessa espécie ser indicada para criação em espaços reduzidos, onde se adaptaram com maior facilidade (Rodrigues et al 2003). O esterco acrescido de urina foi produzido por animais confinados, que receberam mesma dieta total à vontade, com cerca de 13% de proteína bruta, para atendimento de um ganho de peso diário de 1,2 Kg, cuja composição está apresentada na Tabela 5.

Tabela 5 Formulação da ração utilizada no experimento

Componentes

Kg

%

Capim elefante

5,0

23,5

Cevada

12,0

56,2

Raspa de mandioca

3,0

14,1

Cama de frango

1,2

5,2

Sal mineral

 

1,0

Total

 

100

Cada tipo de esterco foi obtido em lotes de oito animais, sendo que foi acumulado durante os meses de julho, agosto e setembro de 2001, sob a ação do clima, reproduzindo as condições de manejo dos produtores rurais. Os diferentes tipos de esterco foram distribuídos em oito parcelas divididas em dois tratamentos (quatro com esterco de bovinos e quatro com esterco de bubalinos) contendo 24 kg cada com aproximadamente 85% de matéria seca, sendo regularmente umedecidos com regador, visando adequar o ambiente à criação de minhocas. De cada parcela foi retirada uma amostra de estrume de 200 g para análise de minerais antes da colocação das minhocas. Os montes de estrume foram distanciados de 1,5 metro uns dos outros, colocados diretamente sobre o piso de concreto de um galpão fechado, de modo a proteger os tratamentos da ação climática e de predadores.

Um lote de 100 minhocas, pesando em média 26,1g (1,28g/minhoca), foi colocado em cada parcela no mesmo dia, sendo coberta com sacos de material sintético para evitar a desidratação do esterco, bem como o excesso de luminosidade do ambiente. As minhocas foram retiradas após a completa humificação do substrato, que durou cerca de 40 dias. Uma amostra de 200 g do vermicomposto de cada parcela foi obtida para análise de minerais.

A análise dos minerais foi realizada no Laboratório da EMBRAPA Agrobiologia, sendo as amostras analisadas com base na matéria seca, após liofilização. As cinzas foram obtidas após aquecimento da amostra a 5500 C e o nitrogênio total determinado pelo método Kjeldahl (Silva e Queiroz 2002). Os minerais foram determinados após a digestão nítrico-perclórica pela via seca, sendo que cálcio e magnésio foram obtidos por espectrofotometria de absorção atômica, o fósforo por colorimetria, o potássio por fotometria de chama (Malavolta et al 1989, Defelipo e Ribeiro 1981).

Os dados coletados para teor de minerais do estrume e do vermicomposto foram preparados e analisados estatisticamente, conforme o pacote computacional SISVAR (Ferreira 2000). O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado, com quatro repetições para cada tratamento, cujo modelo matemático foi Υij = μ + αi + θj + (αθ)ij + eijk em que Υij é a observação do efeito do tipo de adubo orgânico i dentro da parcela j; αi é o efeito do tipo de adubo orgânico, sendo i =1 e 2 (1 = esterco e 2 = vermicomposto); θj é o efeito da origem do adubo orgânico j, sendo j =1 e 2 (1 = bovino e 2 = bubalino); (αθ)ij é o efeito da interação entre o tipo de adubo orgânico i e a origem do adubo orgânico j e eijk = erro associado a cada observação, sendo normal e independentemente distribuído com média 0 (zero) e variância s2.


Resultados e discussão

Para o teor de nitrogênio houve interação entre tipo de adubo orgânico e procedência (P<0,05), conforme demonstrado na Tabela 6. Não ocorreu diferença entre esterco e vermicomposto procedentes de bovinos, mas em relação aos bubalinos, o vermicomposto foi superior ao esterco. O vermicomposto procedente de bubalinos apresentou uma superioridade 2,1 g/kg em relação ao esterco, representando um acréscimo de 8,9%. Verificou-se também que o estrume de bovino foi superior ao esterco de bubalinos, entretanto o mesmo comportamento não foi observado dentro do vermicomposto, isto é, aquele procedente de bovinos foi semelhante ao de bubalinos. O esterco de bovinos mostrou uma superioridade de 1,1 g/kg na concentração de nitrogênio em relação ao de bubalinos, valor que representou uma diferença de 4,7 % a favor dos bovinos.

Tabela 6 Teor de nitrogênio (g/kg) presente no esterco e vermicomposto originários de bovinos e bubalinos

Espécie

Esterco

Vermicomposto

CV, %

Bovino

24,7 Aa

25,0 Aa

2,2

Bubalino

23,6 Bb

25,7 Aa

Médias seguidas pela mesma letra não diferem significativamente (P>0,05) pelo teste de Student, maiúsculas na linha e minúsculas na coluna.
CV - coeficiente de variação

O conteúdo de nitrogênio foi superior ao teor encontrado por Van Raij (1991) em condições de pastagem para estrume de bovinos e Cockrill (1974) para esterco de bubalinos, possivelmente, por interferência das diferentes dietas fornecidas. Segundo Teixeira (1996), em bovinos consumindo elevados níveis de grãos, ocorre um aumento na quantidade de nitrogênio chegando ao intestino grosso e excretado. A dieta pode ter provocado o aumento do nitrogênio no estrume, a qual continha ingredientes ricos neste mineral como o resíduo de cervejaria e a cama de frango. Possivelmente a diferença no teor de N, favorável ao esterco de bovinos, deve estar relacionada aos processos digestivos e metabólicos, visto que a alimentação foi à mesma para os ambos grupos genéticos. Este resultado é uma confirmação do trabalho de Ezequiel (1987), cujos búfalos apresentaram menor estimativa de nitrogênio fecal metabólico quando comparados com bovinos. Teixeira (1996) registra que as fezes de grandes ruminantes apresentam pouco material de origem dietética. Os resultados estão em concordância com as conclusões de Abdullah et al (1992), cujos valores obtidos para nitrogênio revelaram menores níveis no estrume de bubalinos em relação aos bovinos, em função de um melhor aproveitamento desse mineral pelos bubalinos. Rodrigues et al (2003) encontraram superioridade no conteúdo de nitrogênio das fezes de bovinos em relação às de bubalinos, bem como o mesmo comportamento para a procedência dos vermicompostos.

Uma explicação para menor proporção de nitrogênio notada no estrume de bubalinos pode ser atribuída a uma menor taxa de passagem da digesta pelo rúmen-retículo, a qual favoreceu uma maior absorção do potássio, refletindo nas fezes, indicando uma maior digestibilidade deste elemento pelos bubalinos, conforme relatos de Ranjhan e Pathak (1979).

Analisando o conteúdo de nitrogênio nos vermicompostos oriundos do esterco de bovinos e bubalinos, não houve uma associação da concentração mais elevada notada no estrume de bovinos em relação ao estrume de bubalinos. Provavelmente, esta modificação ocorreu pela passagem do estrume pelo trato digestivo das minhocas e pelas perdas eventuais por volatilização que possam ter acontecido durante a exposição do material ao ambiente no período de transformação do estrume em vermicomposto. Ao avaliar os vermicompostos, verifica-se que são semelhantes, entretanto o estrume de bubalino apresentou um teor menor de nitrogênio. Isto pode indicar que existe algum fator no estrume de bubalinos que gera uma maior excreção de nitrogênio, quando o estrume passa pelo trato digestivo das minhocas, o que pode estar relacionado à excreção endógena das minhocas, como sugerida por Aquino et al (1992). Por outro lado, Ricci (1993) não encontrou aumento no teor de nitrogênio no vermicompostos em relação ao composto tradicional.

Avaliando os teores de fósforo e magnésio não houve interação (P>0,05) entre tipo de adubo orgânico e procedência do adubo. Na Tabela 7 estão apresentados os valores para esses dois minerais no esterco e vermicomposto e para adubos originários de bovinos e bubalinos.

Tabela 7 Teor de minerais (g/kg) presentes no esterco e vermicomposto procedentes de bovinos e bubalinos

Minerais

Tipo

Procedência

CV, %

Esterco

Vermicomposto

Bovino

Bubalino

Fósforo

8,6 B

11,1 A

9,9 a

9,8 a

6,5

Magnésio

5,9 B

7,1 A

6,6 a

6,4 a

7,4

Médias seguidas pela mesma letra na linha não diferem significativamente (P>0,05) pelo teste de Student, maiúsculas para tipo e minúsculas para grupo genético

Constata-se que o vermicomposto foi superior ao esterco nas concentrações de fósforo e magnésio, sendo que a diferença de 2,5 g/kg de fósforo representou um aumento de 29,1% em favor do vermicomposto. O conteúdo de magnésio do vermicomposto também foi maior que do estrume em cerca de 1,2 g/kg, representando um acréscimo de 20,3% deste mineral. Os resultados concordam com os registros de Aquino et al (1992), os quais reportaram que o processo de ação das minhocas alteram qualitativa e quantitativamente a composição das substâncias húmicas e dos materiais orgânicos. Soares e Cavalheiro (2004) também concluíram que as minhocas apresentam em seus metabolismos a capacidade de promover a degradação do material original, concentrando os nutrientes. Esses resultados indicam que pode existir uma ampliação de fósforo, após o esterco passar pelo trato digestivo das minhocas.

Para a procedência do adubo, não ocorreu diferença entre bovinos e bubalinos, isto é, existe uma composição semelhante para os minerais fósforo e magnésio. Os valores de fósforo foram superiores aos de Coelho (1973) em bovinos e aos de Cockrill (1974) em bubalinos, os quais permaneceram dentro da faixa apresentada por Van Raij (1991) em bovinos. As diferenças metabólicas e digestivas para estes minerais especificamente não foram suficientes para promover uma diferença do teor nas fezes, considerando que a dieta foi a mesma para ambos os grupos. Além disso, a taxa de passagem, que pode interferir no teor de minerais excretado nas fezes, não influiu no teor de fósforo e magnésio. Os resultados para fósforo podem ser atribuídos às conclusões de Moran (1982), que encontrou uma relação entre o fósforo ingerido e fósforo fecal mais urinário semelhante para bubalinos e bovinos.

Para concentração de potássio houve interação entre tipo de adubo orgânico e procedência (P<0,05), conforme demonstrado na Tabela 8. O teor de potássio no esterco de bovino foi maior do que no vermicomposto em 2,0 g/kg, representando uma queda no conteúdo de 12,1%, após a ação das minhocas, todavia no vermicomposto de bubalinos foi maior que no esterco em 8,0 g/kg, cerca de 72,7% a mais. Houve uma semelhança com os resultados encontrados por Rodrigues et al (2003), cujo valor nas fezes de bovinos foi superior ao vermicomposto. No esterco de bovinos este mineral foi superior à concentração presente no estrume de bubalinos, sendo que para o vermicomposto, observa-se o contrário, ou seja, ocorreu uma superioridade de potássio no vermicomposto oriundo do esterco de bubalinos. O esterco de bovinos indicou uma superioridade de 7,5 g/kg de potássio em relação ao de bubalinos, valor que representou uma proporção de 68,2 % a favor dos bovinos. Por outro lado, o teor de potássio no vermicomposto proveniente de bubalinos foi superior em 2,5 g/kg, constituindo um aumento de 15,2%. Rodrigues et al (2003) relataram menor valor para o teor de potássio no vermicomposto originário de bovinos.

Tabela 8 Teor de potássio presente no esterco e vermicomposto procedentes de bovinos e bubalinos

Grupo genético/tipo

Esterco

Vermicomposto

CV, %

Bovino

18,5 Aa

16,5 Bb

6,8

Bubalino

11,0 Bb

19,0 Aa

Médias seguidas pela mesma letra não diferem significativamente (P>0,05) pelo teste de Student, maiúsculas na linha e minúsculas na coluna

O teor de potássio no estrume de bovinos obtidos por Coelho (1973) e Van Raij (1991) foi menor do que o encontrado no presente estudo, bem como os valores registrados por Cockill (1974) para estrume de bubalinos. As diferenças digestivas e metabólicas entre bubalinos e bovinos foram suficientes para diferenciar a concentração de potássio excretado nas fezes. A menor taxa de passagem dos bubalinos descrita por Ranjhan e Pathak (1979), pode ter ocasionado uma maior absorção desse mineral, refletida nas fezes, indicando uma maior digestibilidade dos bubalinos.

A passagem do estrume de bubalinos pelo trato digestivo das minhocas provocou uma elevação do potássio presente no vermicomposto. Possivelmente algum fator desconhecido no estrume de bubalinos pode ter promovido essa ascensão no teor desse mineral, visto que o mesmo resultado não foi revelado no vermicomposto de bovinos.

Quanto ao teor de cálcio houve interação entre tipo de adubo orgânico e procedência (P<0,05), conforme demonstrado na Tabela 9. O conteúdo de cálcio foi maior no vermicomposto que no esterco procedente de bovinos, sendo que o mesmo comportamento foi obtido em bubalinos. A superioridade no teor de cálcio do vermicomposto sobre o estrume oriundo de bovinos foi de 4,5 g/kg, que representaram 16,1% a mais. Em bubalinos, a concentração de cálcio no vermicomposto foi superior em 7,9 g/kg do que no esterco, com cerca de 31,5% de acréscimo, concordando com as conclusões de Tagliari (1995), que relata acréscimos de 30% de cálcio no vermicompostos devido aos excrementos de minhocas. O teor de cálcio no esterco de bovinos foi maior do que no esterco de bubalinos, enquanto para o vermicomposto observa-se o oposto, havendo uma superioridade no vermicomposto originário de bubalinos. O esterco de bovinos demonstrou uma superioridade de 2,8 g/kg de cálcio em relação ao de bubalinos, valor que representou uma proporção de 11,1% a favor dos bovinos. Por outro lado, o vermicomposto proveniente de bovinos foi superior em 1,0 g/kg de cálcio, constituindo um acréscimo de 3,1%.

Tabela 9 Teor de cálcio presente do esterco e vermicomposto procedentes de bovinos e bubalinos

Grupo genético/tipo

Esterco

Vermicomposto

CV, %

Bovino

27,9 Ba

32,4 Ab

2,0

Bubalino

25,1 Bb

33,4 Aa

Médias seguidas pela mesma letra não diferem significativamente (P>0,05) pelo teste de Student, maiúsculas na linha e minúsculas na coluna

Esse resultado baseia-se nas conclusões de Ranjhan e Pathak (1979), os quais relatam que há uma menor taxa de passagem por parte dos bubalinos, podendo gerar uma maior digestão desse mineral, conduzindo a um menor teor nas fezes. Há indicativos de que ocorreram perdas endógenas mais intensas dentro do grupo de bovinos, considerando que 74% dos minerais presentes nas fezes são oriundos dessas perdas, conforme registro de Teixeira (1996). Em estudos anteriores, Rodrigues et al (2003), alcançaram maior porcentual de cálcio nas fezes e vermicomposto procedentes de bovinos, todavia no presente estudo a concentração de cálcio foi superior no vermicomposto de bubalinos.

Em relação aos dados obtidos por Ferruzzi (1986), os teores de nitrogênio, fósforo e cálcio foram superiores no presente estudo, enquanto o conteúdo de potássio foi semelhante e a concentração de magnésio menor. Albanell et al (1988) apresentaram valores inferiores de nitrogênio no vermicomposto, enquanto Longo (1992) obteve valores superiores para o fósforo e inferiores para o potássio. Lamin (1995), trabalhando com vermicomposto proveniente de esterco bovino obteve maior valor para concentrações de nitrogênio, menor para o magnésio, maior para o potássio e menor para o cálcio. Ricci (1993) também notou valores diferentes para minerais do vermicomposto obtendo menor teor de nitrogênio, maior de fósforo, menor de potássio, maior de cálcio e semelhante para o magnésio. Rodrigues et al (2003) reportam valores inferiores para o conteúdo de nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio e magnésio. As diferenças nos valores dos minerais nos diversos trabalhos provavelmente tenham ocorrido em virtude das variadas dietas utilizadas, grupos genéticos e idade dos animais.


Conclusões

O esterco de bovinos, em geral, tem concentrações mais elevadas de minerais do que o de bubalinos.

Os vermicompostos são mais ricos em nutrientes do que os estercos, independentes da origem.

As minhocas acrescentam minerais de origem endógena aos vermicompostos produzidos a partir de esterco de bovinos e bubalinos.


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Received 24 July 2005; Accepted 19 September 2005; Published 1 November 2005

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